Aldo José Morais Silva
Historiador CUCA / UEFS


Breve histórico

O Bando Anunciador da Festa da Senhora Santana, a padroeira da cidade, é uma importante manifestação cultural e histórica. O evento que ocorre no mês de julho é a parte profana que antecede as comemorações e homenagens a Senhora Santana, com participação dos mais diversos segmentos populares e faixas etárias. O Bando em si é formado por levas de populares, vários trajando fantasias (nos mais diversos estilos e temáticas), acompanhados por bandas e fanfarras, que percorrem as ruas do centro histórico da cidade de Feira de Santana, notadamente, a partir da Praça da Igreja Matriz, as ruas Conselheiro Franco e Sales Barbosa, passando por diferentes becos e ruas transversais, sempre ao som de marchinhas e canções populares, tendo a irreverência e alegria como marcas registradas.

A origem do Bando está ligada à tradição católica de festejo da Senhora Santana. Em tempos idos, com limitados recursos de comunicação, o principal evento religioso da cidade precisava ser divulgado. Cumprindo essa finalidade, um grupo passou a sair pelas ruas da cidade anunciando a celebração da padroeira. Nascia assim o Bando Anunciador da Festa de Santana. Tal prática pode ter raízes ainda na colonização portuguesa, mas pode-se afirmar com segurança que, pelo menos a parir da década de 1860, o Bando Anunciador já desfilava pelas ruas da cidade. Naquele período esse desfile acontecia com cerca de dois meses de antecedência em relação à Festa de Santana. Por volta de meados do século XX, o bando já havia passado a desfilar apenas uma semana antes da festa principal. (POPPINO, 1966; BATISTA, 1997)

As características e a composição do Bando se alteraram bastante ao longo de sua existência. No século XIX, segundo os estudiosos do assunto, o bando era formado por cavaleiros que saíam em marcha pela cidade, sem a participação feminina. No início do século XX as mulheres já começam a integrar os grupos que, então, a pé, faziam o anúncio da Festa. Por volta da década de 1940 têm-se evidências da participação de outros elementos começando a se fazer mais presentes, como, por exemplo, os integrantes das religiões afro-brasileiras, incrementando o lado sincrético da festa. (MORAES, 2015)

Na segunda metade do século XX a diversidade do bando já está bem evidente e elementos de contestação política e social começam a se fazer marcantes nos desfiles. Nesse momento a dimensão profana da festa já suplantava sua ‘função’ religiosa, o que começava a incomodar a muitos, assim como os episódios de violência ocorridos no contexto do festejo.

Tal incômodo resultou em reação, em 1987 quando, com o apoio do movimento de restauração católica, o Bispo Diocesano Dom Silvério Albuquerque extinguiu toda a parte profana da Festa de Santana (a levagem da lenha, a lavagem da igreja), sob a alegação de que esta já havia se descaracterizado de seu propósito inicial e de que havia, naquele momento, muita violência e consumo de álcool associados ao evento. Com tal medida, extinguiu-se o Bando Anunciador, após, pelo menos, 127 anos de existência.

Mas as críticas aos excessos do Bando não partiam só da Igreja em 1987. Então, naquele momento, o fim do Bando Anunciador resultou também da falta de apoio de parte da sociedade. O processo que resultou no seu fim foi mais complexo do que um ‘simples’ ato unilateral da Igreja.

A Igreja Católica, tendo atualmente dirigentes mais sensíveis às questões relacionadas à cultura, tornou-se uma parceira no sentido de assegurar o acesso do Bando à Praça da Matriz. E o com o seu apoio deu-se a retomada deste evento, em 2007, a partir da iniciativa do Centro Universitário de Cultura e Arte, que pretende que o Bando seja hoje uma celebração da cultura popular. E um mote para as discussões relacionadas com a cultura em Feira de Santana, seu passado e seus rumos no futuro.

Referências:
BATISTA, Silvânia Maria. Conflitos e Comunhão na Festa da Padroeira em Feira de Santana (1930 – 1950). 1997. Trabalho de conclusão de curso (Especialização) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 1997.
MORAES, Greice Moreira. Bando anunciador na festa de Sant’Ana em Feira de Santana (1860-1988). Disponível em: http://vencontro.anpuhba.org/.
POPPINO, Rollie. Feira de Santana. Salvador: Itapoã, 1968.