No dia 15 de setembro de 2002, às 19:30, acontecerá a reabertura da Galeria de Arte Carlo Barbosa do Centro Universitário de Cultura e Arte, com a exposição “Tonho da Bahia”.
Tonho da Bahia e o papel social do CUCA
Quem visitar a página do CUCA na internet e buscar, entre a descrição de seus setores constituintes a caracterização da Galeria Carlo Barbosa, encontrará a informação de que tal setor “destina-se a atrair artistas locais e regionais para exposição de seus trabalhos, promovendo a valorização e a difusão das diferentes expressões das artes visuais e formas de expressão cultural, além de oferecer um espaço alternativo ao circuito das galerias comerciais de arte, abrindo o campo para novos talentos”.E ante tal descrição, parecerá muito natural que Antonio Pereira (Tonho da Bahia) esteja ocupando esse espaço, dada o seu reconhecimento artístico, consagrado por meio da seleção, em 2017, para Bienal Internacional de Arte Naïf Totem Cor-Ação, no município de Socorro (SP).
Mas tal constatação não diz tudo sobre Tonho da Bahia ou sobre o espaço que o recebe. E tal relação não é incidental. Tonho tem uma trajetória de vida que certamente encontra eco no percurso de muitos outros artistas naifs, pelo menos no cenário das artes brasileira e baiana. Atuando como auxiliar de serviços gerais no CUCA há muitos anos, somente em 2014, aos 54 anos, teve seus primeiros contatos com o programa de formação artística que ajudava a dar forma com seu trabalho quotidiano. No programa de formação artística cursou inicialmente oficinas de violão e teatro, mas foi nos cursos de desenho e pintura, esses último sob as orientações de Avelina Bitencourt e Jorge Galeano, respectivamente, que Tonho encontrou sua identidade e mais vívida forma de expressão.
Transcorridos cinco anos de sua participação na Bienal Internacional, a arte de Tonho, confere-lhe autoestima, reconhecimento, sentido e propósito. Integra-o, na medida em que lhe traz visibilidade e amplia a voz, ‘privilégios’ que nem sempre estiveram ao seu alcance, como de resto não estão para tantos e tantas que, como ele, experimentam um lugar social marcado por restrições e desafios, desiguais e desproporcionalmente impostos.
Um tal movimento, contudo, viceja como expressão concreta e deliberada de uma política institucional que vê nas artes o potencial de acolher, integrar e expressar potencialidades, experiências e sensibilidades, de forma emancipadora e cidadã. É o CUCA a instância da UEFS que dá concretude a tal política, e a Galeria de Arte Carlo Babosa um dos locus dessa vivência. Ao receber a exposição de Tonho da Bahia, a Galeria manifesta objetivamente uma perspectiva de trabalho pautada pela noção de democracia cultural (aquela que reconhece a pertinência e validade de diferentes expressões da cultura popular) e não só da democratização das artes (noção que parte da premissa de assegurar o acesso da população a formas de expressão artísticas tidas como consagradas).
Ao montar a presente exposição, a Galeria Carlo Barbosa, concretiza, portanto, um ciclo, que se inicia com a autodescoberta de um artista popular, o assenhoreamento de sua identidade e valor, e ganha forma com sua apresentação ao público, que há também de se reconhecer nas representações do quotidiano feirense, e de sua gente, através do olhar, do traço e das cores singulares de Tonho da Bahia.
Aldo José Morais Silva
Diretor do CUCA
06/09/2022