Aldo José Morais Silva

Historiador CUCA / UEFS

A década de 1960 foi um período de intensas transformações na sociedade feirense. Grupos de intelectuais, artistas e políticos percebiam que a cidade crescia e se industrializava rapidamente, o que provocava em uns, grande entusiasmo com a modernização da vida urbana e, em outros, certa preocupação com a perda das características de cidade pacata, fortemente marcada pelo universo rural e por sua história, ligada há séculos à feira-livre e ao comércio de gado.

Tanto os adeptos da modernização como os defensores da cidade tradicional acreditavam, porém, que a criação de um museu em Feira de Santana podia assegurar e fortalecer a vida cultural do município. Assim, iniciaram-se os esforços junto aos poderes municipais e ao Governo do Estado para que a cidade pudesse ter o seu museu.

Coincidentemente o empresário das comunicações Assis Chateaubriand, um dos principais responsáveis pela criação, em 1944, do Museu de Arte de São Paulo (MASP), encontrava-se engajado, em 1967, em uma campanha nacional para criação dos museus regionais, com o objetivo de possibilitar a descentralização dos museus das grandes metrópoles, viabilizando a interiorização da arte e o incentivo à descoberta de novos artistas, além de criar espaços de lazer e educação que favorecessem a apreciação de obras de arte. O fato não passou desapercebido pela intelectualidade da cidade, o que levou Dival Pitombo, principal entusiasta da ideia do museu feirense, a procurar, com sucesso, o apoio de Chateaubriand.

Garantido o apoio do empresário para a doação do acervo artístico, as atenções foram focadas na estruturação do tão desejado espaço pelas autoridades públicas. Em resposta a esta mobilização o governo estadual acionou a Fundação Museus Regionais da Bahia e, através desta, foi criada, em 20 de fevereiro de 1967, a Fundação Museu Regional de Feira de Santana (FMRFS) para administrar o futuro museu do município. Compunham a direção da FMRFS João da Costa Falcão, como presidente; Eurico Alves Boaventura, como vice-presidente; Fernando Pinto de Queiroz, na função de secretário; Jorge Bastos Leal, como tesoureiro e Dival da Silva Pitombo, no cargo de diretor executivo.

Pouco mais de um mês depois, em 26 de março de 1967, o Museu Regional de Feira de Santana abriu suas portas ao público. A inauguração ocorreu com grande solenidade que reuniu personalidades de destaque no cenário nacional e internacional, dentre as quais o empresário Assis Chateaubriand, o pintor Di Cavalcanti e o embaixador inglês no Brasil, Sir. John Russel.

Ao iniciar suas atividades o Museu Regional de Feira de Santana atendia plenamente as expectativas dos grupos que o idealizaram. Para os defensores das tradições históricas da cidade o museu havia reunido uma vasta coleção dedicada à cultura regional, constituída por artefatos característicos da chamada “cultura do couro”, que ilustrava o dia-a-dia do homem sertanejo e remetiam às origens do povo de Feira de Santana. Os adeptos da modernização da cidade foram contemplados com um acervo de artes plásticas no qual figuravam artistas modernistas brasileiros de destaque, incluindo baianos e feirenses. O acervo contava ainda com uma coleção de modernistas ingleses, única em toda a América Latina, adquiridos por Assis Chateaubriand, quando de sua estadia como embaixador do Brasil na Inglaterra, de 1657 a 1960, e doadas por este ao Governo do Estado da Bahia.

O Museu Regional de Feira de Santana foi então o segundo dos três museus criados com o apoio de Chateaubriand como parte de sua campanha, tendo o primeiro sido o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em dezembro de 1966. A terceira instituição criada foi o Museu Regional de Campina Grande (hoje chamado Museu de Artes Assis Chateaubriand), em agosto de 1967.

O museu feirense começou a funcionar, em março de 1967, no antigo prédio da administração do Campo do Gado, cedido pela Prefeitura Municipal, situado na Rua Geminiano Costa (prédio onde hoje funcional uma outra instituição semelhante, o Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana), tendo Dival Pitombo como diretor.

A grande qualidade e importância do patrimônio artístico do Museu não lhe garantiram, contudo, os recursos necessários junto ao poder municipal para assegurar o adequado desenvolvimento de suas atividades. Assim, a despeito dos esforços do seu Diretor, ao longo da década de 1970 e início da década de 1980, o Museu Regional de Feira de Santana passou a funcionar de modo cada vez mais precário, tendo sido até arrombado e depredado, em mais de uma ocasião. Tal situação provocou a reação da sociedade feirense, que exigiu melhores condições para o seu museu. Como resultado, o poder municipal transferiu o Museu Regional de Arte para a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) em 1985.

Em 1995, a UEFS inaugurou o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) e transferiu para este centro o museu, que passou a funcionar no prédio da antiga Escola Normal de Feira de Santana, localizada na Rua Conselheiro Franco, nº 66. Nesse momento, seu acervo original foi desmembrado, tendo a parte que contava com elementos de arte regionalista e da “cultura do couro” sido enviada para o Museu Casa do Sertão, também pertencente à UEFS. Com isso o Museu Regional de Feira de Santana, que teve seu nome mudado para Museu Regional de Arte (MRA), passou a ser um espaço destinado exclusivamente às artes visuais e se consolidou como um dos mais importantes da Bahia.

Feira de Santana, 2015