Aldo José Morais Silva
Historiador CUCA / UEFS

De grupo escolar a museu de arte: um breve histórico do prédio do MRA

O prédio que atualmente abriga o Museu Regional de Arte (MRA) tem uma longa e interessante história, cuja trajetória, confunde-se com a própria história da educação em Feira de Santana. Sua construção, em estilo eclético, foi concluída em 1916, por ordem do então governador José Joaquim Seabra, para expandir o ensino primário no município. Desse modo, o prédio funcionou inicialmente com o nome de Escola Fundamental J. J. Seabra.

Em 1925 o governo do estadual decidiu levar as chamadas Escolas Normais (destinadas à formação de professores) para o interior do estado. Assim, em 1927 a escola fundamental J. J. Seabra foi transformada na Escola Normal de Feira de Santana, tendo ainda sua identificação modificada para Escola Normal Rural, em 1935[1], como reflexo da Semana Ruralista, realizada naquele ano. Tal evento expressava uma das facetas da política educacional do governo Vargas, expressa sob a forma do ruralismo pedagógico, cujo principal objetivo era integrar as esferas urbana e rural da nacionalidade, particularmente pelo enaltecimento desta última, de modo que a escola deveria contribuir diretamente com a valorização e profissionalização do trabalho do campo[2].

Em 1943, no contexto da 2ª Guerra Mundial, a escola foi transferida para os salões da prefeitura e o prédio passou a abrigar o alojamento do 18º Batalhão de Infantaria da 6ª Região Militar, que havia sido instalado na cidade para treinar recrutas para o conflito.

Com o final da guerra o prédio volta a sediar a Escola Normal e ganha o Ginásio Estadual de Feira de Santana, uma vez que a instituição passou a contar também com o curso ginasial. Esta ampliação de suas atividades tornou as instalações físicas da antiga escola insuficientes para o crescente do número de alunos, o que fez com que um novo prédio fosse construído para abrigar a instituição de ensino. Esse prédio foi concluído em 1956 e foi posteriormente denominado Instituto de Educação Gastão Guimarães (IEGG), para onde foram então transferidos o ginásio e a escola normal[3].

Com a transferência de suas atividades para o IEGG a antiga escola entra em uma fase de progressiva desocupação. Tal período foi interrompido em 1968, quando foi criada a Faculdade de Educação (que daria origem posteriormente à Universidade Estadual de Feira de Santana). A nova faculdade deu início às suas atividades letivas no histórico prédio, abrigando a primeira turma de graduandos do curso de Letras e, a partir de 1970, também dos cursos de Ciências e Estudos Sociais.

O prédio histórico, porém, mais uma vez mostrou-se insuficiente para abrigar as atividades em expansão da Faculdade. Assim, em 1971 é adquirido um terreno para construção de um campus universitário. Em 1973 foram inauguradas as primeiras instalações de ensino, pesquisa e extensão e a Faculdade de Educação transferiu então suas atividades para o novo campus[4].

Com a transferência das atividades acadêmicas para o campus, o prédio da antiga Escola Normal volta a ficar desocupado, mas não por muito tempo, pois por volta de 1978 já abrigava as atividades do Seminário de Música de Feira de Santana. O Seminário era uma entidade independente, criada em 1962. Neste período, contudo, a instituição encontrava-se desprovida de sede própria, vindo por isso a estabelece-se na velha escola, onde permaneceu desenvolvendo suas atividades até 1994, quando sua estrutura física, já bastante debilitada, exigiu a retirada das atividades do Seminário de Música (que passou a funcionar provisoriamente no Centro de Cultura Amélio Amorim) para realização de reformas[5].

Foi nesse momento que a Universidade Estadual de Feira de Santana decidiu pela criação do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), destinado a ocupar toda a área da antiga escola, com cerca de 1200 m2, e do próprio prédio da Escola Normal. Este prédio foi então adaptado para receber o Museu Regional de Feira de Santana, outra entidade independente, nascida em 1967, que tendo sido incorporada à UEFS, e rebatizado como Museu Regional de Arte, em 1995, passou a ter no CUCA a sua sede atual e, ao mesmo tempo, conferir a identidade visual do principal órgão de cultura da Universidade e da sociedade feirense.

[1] CRUZ, Neide Almeida da. A escola normal de Feira de Santana (I. E. G. G.). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana. Ferira de Santana, a. IV, n. 4, p. 153-160, 2007.

[2] ARAÚJO, Fátima Maria Leitão. Educação rural e formação de professores no Brasil: gênese de uma experiência pioneira. Cadernos de História da Educação. v. 10, n. 2, jul/dez, p. 237-255, 2011

[3] CRUZ, Neide Almeida da. Op. Cit.

[4] UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA. UEFS 20 anos. Feira de Santana. s/n., 1996. p. 21-24.

[5] MORAES, Ísis; LOPES, Raymundo Luiz. Seminário de música de Feira de Santana – 40 anos de história (1962-2002): idealismo e realidade. In. MENEZES, Gil Mário de Oliveira (Org.). Cultura e artes plásticas em Feira de Santana. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2003. p. 167-173.